20 de março de 2016

Espetáculo "Teorema 21" em cartaz até 1º de maio em São Paulo




Grupo XIX de Teatro prorroga temporada da a peça livremente inspirada na obra "Teorema" do italiano Pier Paolo Pasolini

O Grupo XIX de Teatro engata nova temporada do espetáculo Teorema 21. Com direção de Luiz Fernando Marques e dramaturgia de Alexandre Dal Farra a peça é livremente inspirada na obra Teorema, do italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975). Cineasta, escritor e poeta, Pasolini é considerado um artista visionário e fazia duras críticas ao consumismo.

Uma família retorna ao seu antigo lar. Ao buscar encontrar novas possibilidades de existência nesse ambiente antigo, recriam as suas relações e experimentam novas formas de contato. O núcleo familiar é constituído por um patriarca, a mãe, o filho e a filha. Vive na casa, ainda, a criada Emília. Tudo parece estável. Mais do que isso, estagnado. A chegada de um estrangeiro ameaça transformar a estrutura dessa família. 

A trama se passa na casa onde a família morou há alguns anos e agora volta sem nenhum motivo aparente. A montagem é encenada ao entardecer na antiga escola de meninas, hoje desativada, localizada dentro da Vila Maria Zélia, um lugar quase sem teto, com as paredes em ruínas, em meio aos escombros. Ao entrar no espaço e ocupar as cadeiras giratórias dispostas aleatoriamente, o público é inserido no interior da sala de estar e pode girar as cadeiras para escolher o melhor ângulo para cada cena. 

Ao ler o livro de Pasolini, Alexandre Dal Farra se deparou com a questão: Qual seria um possível teorema para os tempos atuais? “Não se trata de pensar sobre as alterações das relações familiares, mas sim, nas mudanças na dinâmica do próprio capital, e na sua relação com a ideologia. O capitalismo ainda precisa de ideologia? Talvez essa seja a questão central da peça, ao meu ver”, explica Dal Farra.

Para Luiz Fernando Marques a peça é a tentativa de falar sobre um mal estar geral que estamos vivendo. “A obra de Pasolini é muito importante, muito presente na peça, é a alegoria da burguesia. Só que no inicio dos anos 60 essa burguesia estava assentada numa classe e de certa forma representada pela estrutura familiar. Em Teorema 21 é como se essa classe burguesa, ou essa ideologia tivesse se esparramado para todas as classes. E esse sistema, essa engrenagem gira em qualquer lugar, seja dentro da família, dentro de um partido politico ou até mesmo dentro de um grupo de teatro. O estrangeiro chega para romper com esse sistema, mas a engrenagem se mostra forte o suficiente para se impor perante ele.”

Para o diretor a peça poderia se passar em qualquer cidade do mundo. “A burguesia é igual em todos os lugares. Temos a sensação de que esse capital mesmo desgastado, em crise não consegue ser desmontado. Ele não se destrói, ele permanece.”

Teorema 21, parte ainda de outras referências como os filmes Dente Canino (Giorgos Lanthimos, 2009), Funny Games (Michael Haneke, 1997) e o Saló (1975), do próprio Pasolini. Saló foi o último e um dos seus mais polêmicos filmes. Numa entrevista publicada seis dias após seu assassinato, Pasolini disse ao jornalista: “Pretendo que você olhe em torno e se dê conta da tragédia. Qual é a tragédia? A tragédia é que não existem mais seres humanos, existem estranhas máquinas que se batem umas contra as outras.” 

Processo colaborativo

Essa é a quarta parceria entre o dramaturgo Alexandre Dal Farra com o diretor Luiz Fernando Marques: Nada Aconteceu, Tudo Acontece, Tudo está Acontecendo (Grupo XIX de Teatro, 2013), Bruto (Núcleo de Dramaturgia do Sesi, 2015) e Orgia ou de Como os Corpos Podem Substituir as Ideias (Teatro Kunyn, 2015). Alexandre Dal Farra acredita que tanto a dramaturgia, como a direção, assim como o trabalho do Grupo XIX, dialogam agora de maneira ainda mais potente. “Creio que isso ocorreu porque no processo houve também a presença da atriz Janaina Leite como dramaturgista, envolvendo proposições e ideias que se referem ao trânsito entre dramaturgia e direção.”

Luiz Fernando Marques ressalta a contribuição e as diferenças de processo de cada peça. “Em Teorema 21, trabalhamos juntos desde o inicio do projeto, com revisões no texto, mudanças, experimentação das cenas. A escrita e o olhar do Alexandre me interessam muito. Ele entende a dinâmica do Grupo XIX, até por fazer parte de um grupo também, e tem se revelado um parceiro importante. Trabalhamos de maneira muito orgânica. Destaco também o envolvimento no trabalho dos atores, que além da participação no processo exercem outras funções como a criação dos figurinos de Juliana Sanches e o cenário de Rodolfo Amorim.”

Cinema, literatura e teatro

Teorema estreou no cinema, em 1968 e ganhou uma versão literária, escrita pelo próprio Pasolini, no mesmo ano. Por meio de suas personagens, o autor critica a futilidade, o comodismo e a alienação da burguesia. O livro recria a obra estilisticamente, a partir do que é característico a cada linguagem. Se o filme é quase sem palavras, o livro descreve a exaustão a simbologia que se expressa na relação entre as personagens. 

“Convidamos o dramaturgo Alexandre Dal Farra para analisar os recursos narrativos que são diferentemente empregados no livro e no filme homônimo, levantando hipóteses para um possível recorte, agora, no teatro. Não se trata de uma adaptação, mas de uma recriação da obra citada com texto inédito”, explica Luiz Fernando Marques.

Pasolini entrou tardiamente para o cinema, tendo sido a literatura e a poesia seu canal de expressão da realidade por muitos anos. Menos conhecida ainda é sua obra teatral. É considerado um pioneiro, um autor multimídia, e o cineasta italiano mais estudado, mesmo antes de sua morte. 

Homossexual, foi brutalmente assassinado em novembro de 1975. O processo judicial concluiu que foi morto por um garoto de programa, porém essa versão é contestada até hoje. Pasolini morreu um dia depois de voltar de Estocolmo, onde havia se reunido com Ingmar Bergman e outros representantes da vanguarda cinematográfica sueca, e de ter dado uma entrevista à revista L'Espresso com declarações polêmicas sobre tema favorito: "Considero o consumismo como uma forma de fascismo pior que a versão clássica". 

Sobre o Grupo XIX de Teatro

O grupo XIX de teatro tem um trabalho contínuo de 14 anos, com pesquisa temática voltada para a história brasileira, uma pesquisa estética de exploração de prédios históricos como espaços cênicos e uma investigação sobre a participação ativa do público. O grupo montou 5 espetáculo com dramaturgia inédita – todos em repertório até hoje - Hysteria, Hygiene, Arrufos, Marcha para Zenturo (em parceria com o Grupo Espanca), Nada aconteceu, Tudo Acontece, Tudo Está Acontecendo e Estrada do Sul (em parceria com o Teatro dell’argine, da Itália).

Desde 2004, o grupo realiza residência artística, na tombada Vila Operária Maria Zélia, no Belém, em São Paulo. Em 2005 o grupo foi indicado ao Prêmio Shell de Teatro na categoria especial pela intervenção artística na Vila Maria Zélia. Ao longo de sua trajetória o grupo acumula entre prêmios e indicações mais de 15 menções nos principais prêmios do país: Shell, APCA, Cooperativa Paulista de Teatro, Bravo!, Qualidade Brasil entre outros. 

O grupo também tem uma relevante trajetória internacional, realizando as suas peças não só na língua portuguesa como também em francês, inglês e italiano. O grupo já percorreu no exterior 21 cidades em 5 países (Europa: Portugal, Inglaterra, Itália e França; África: Cabo Verde). No primeiro semestre de 2005, o grupo cumpriu uma temporada de dois meses de Hysteria por 8 cidades francesas por ocasião do “L’année du Brésil en France”. Em junho de 2008 a peça cumpriu temporada no renomado Barbican Center de Londres na Inglaterra e, em 2009 o grupo foi convidado pelo Contact de Manchester para dirigir o espetáculo de formatura da instituição. 

Em 2012, o Grupo participou da mostra São Palco, idealizada pelo O Teatrão, em Coimbra, Portugal e participou do Festival La scenna dell’incontro, em Bologna, Itália em parceria com o ITC e o Teatro dell’Arginne. Em 2013 o grupo participou do Ano do Brasil em Portugal por 5 cidades. 

As longas temporadas das peças do Grupo XIX colocaram a Vila Maria Zélia no mapa Cultural Brasileiro. Prova maior disso é que hoje outros coletivos, inclusive de outras cidades, também cumprem suas temporadas no local. Este movimento tem impulsionado ainda mais um outro importante projeto do grupo: Os Núcleos de Pesquisa. 

Os Núcleos são coletivos formados a partir de seleções que já chegaram a atingir o número de 400 inscritos, que ao longo do ano, sob a orientação dos artistas do grupo XIX de teatro, desenvolvem diversas pesquisas nas áreas de atuação, direção, dramaturgia, corpo e direção de arte. No total mais de 1000 artistas já participaram destas atividades e delas têm surgido novos coletivos teatrais de destaque como o Teatro da Travessia, Teatro do Fubá, dentre outros.

Ficha técnica

Realização Grupo XIX de Teatro. Dramaturgia Alexandre Dal Farra. Direção Luiz Fernando Marques. Dramaturgismo Janaina Leite. Atuação Bruna Betito, Emilene Gutierrez, Janaina Leite, Juliana Sanches, Paulo Celestino, Rodolfo Amorim e Ronaldo Serruya. Produção Executiva Vanessa Candela. Cenografia Luiz Fernando Marques e Rodolfo Amorim.Figurinos Juliana Sanches. Vídeo Luiz Fernando Marques. Contra-regra Luciano Morgado. Preparação Corporal (parkour) Diogo Granato. Assistência de Figurino e adereços Gabriela Costa. Assistência de Produção Marilia Novaes. Provocadores do processo Eleonora Fabião, Marcelo Caetano, Miwa Yanagizawa, Luis Fuganti e Bruno Jorge. Participação no processo Mariza Junqueira. Arte Gráfica, fotos e mídias Sociais Jonatas Marques. Assessoria de Imprensa Adriana Balsanelli. Site - www.grupoxix.com.br

Serviço

TEOREMA 21 – Estreou dia 22 de janeiro de 2016 na Vila Maria Zélia - Rua Mário Costa 13 (Entre as ruas Cachoeira e dos Prazeres) – Belém. Telefone – (11) 2081-4647. Acesso para deficientes físicos. Estacionamento: gratuito. Duração: 75 minutos. Classificação etária: 18 anos. Capacidade: 40 lugares.



Nova temporada: De 13 de março a 1º de maio – Sábados e domingos, às 17h.

Importante: Dias 12 de março, 23 e 24 de abril não tem sessão. 

Sessões extras: Dia 25 de março (Páscoa), dia 21 de abril (Feriado Tiradentes) e dia 29 de abril.

Ingressos: R$40 e R$20 (meia entrada)

Bilheteria: de terça a sexta, das 14h às 18h. Sábados e domingos das 16h até o inicio do espetáculo.

Rua Mário Costa 13 (Entre as ruas Cachoeira e dos Prazeres) – Belém.

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