Mudança no estilo de vida urbano impõe desafios ao bem-estar de cães e gatos criados em espaços reduzidos
Texto: Sérgio Dias
Fotos: Freepik
A convivência entre humanos e animais de estimação em ambientes urbanos e compactos se tornou comum nos últimos anos. Com a verticalização das cidades, é cada vez mais frequente a presença de cães e gatos em apartamentos. Na coluna dessa semana vamos falar que, com a nova configuração residencial, exige-se uma série de ajustes na rotina e no ambiente para preservar a saúde física e emocional dos pets.
A restrição de espaço, o tempo limitado ao ar livre e a ausência de estímulos naturais são fatores que impactam diretamente o comportamento animal. Segundo Farah de Andrade, médica-veterinária e consultora da rede de farmácias de manipulação veterinária DrogaVET, “a limitação de espaço reduz a possibilidade de expressão de comportamentos naturais dos cães e gatos, o que pode levar a quadros de estresse, ansiedade, agressividade, hiperatividade, lambedura excessiva, miados e latidos persistentes, entre outros problemas comportamentais e de saúde”.
A rotina estruturada é um dos principais recursos para manter o equilíbrio emocional dos animais que vivem em apartamentos. Cães, por exemplo, necessitam de caminhadas diárias que não se limitem às necessidades fisiológicas. Os passeios devem proporcionar estímulos variados, incluindo o uso do olfato, que tem função essencial no processamento mental dos cães. “Farejar durante o passeio é, para o cachorro, como ler o jornal do dia. Ele capta informações sobre outros animais, território e até o estado emocional dos colegas de espécie. Impedir ou apressar esse momento equivale a negar um estímulo essencial”, afirma Farah.
Em situações em que o tutor possui uma rotina mais rígida ou o animal apresenta alto nível de energia, opções como creches especializadas, passeadores ou adestradores comportamentais têm ganhado espaço. Essas alternativas combinam atividade física com estímulo cognitivo e socialização, reduzindo comportamentos compulsivos ou destrutivos.
A realidade dos gatos também demanda atenção. Apesar de considerados mais independentes, os felinos não estão isentos dos efeitos negativos da limitação de espaço. A ausência de estímulos pode provocar apatia, estresse crônico, obesidade e até quadros de agressividade. O enriquecimento ambiental se apresenta como medida preventiva, com uso de prateleiras, brinquedos interativos, esconderijos e acesso seguro a janelas, o que permite ao animal observar o movimento externo e se manter mentalmente ativo.
Além do ambiente, a interação diária com o tutor é fundamental. Atividades simples, como brincadeiras curtas, contribuem para o bem-estar emocional do pet e reforçam o vínculo com o humano. Bolas recheadas com petiscos, brinquedos com texturas variadas e circuitos de obstáculos improvisados são exemplos de estratégias eficazes para manter o animal envolvido e equilibrado.
O enriquecimento ambiental pode ser dividido em categorias sensorial, social, alimentar, físico e cognitivo. Cada tipo atua de forma distinta, complementando os cuidados com o pet e auxiliando na prevenção de distúrbios comportamentais. A criação de estímulos diversificados favorece a expressão de comportamentos naturais, como escavação, caça simulada, socialização e resolução de problemas.
Mesmo com essas iniciativas, alguns animais desenvolvem quadros de ansiedade mais intensos. Em especial, cães e gatos resgatados, expostos a mudanças bruscas ou com predisposição genética podem necessitar de apoio terapêutico adicional. Florais e fitoterápicos manipulados individualmente surgem como alternativa para esses casos. Substâncias como valeriana, passiflora, L-triptofano, kawa-kawa e melatonina são utilizadas para promover regulação emocional sem causar sedação excessiva.
A manipulação farmacêutica permite ainda a adequação das doses ao porte, peso e espécie do animal, além de facilitar a administração com apresentações palatáveis. “Esses compostos atuam de forma suave e segura, promovendo bem-estar sem causar sedação excessiva. E, o mais importante, podem ser manipulados em formas farmacêuticas palatáveis, como biscoitos, molhos, glóbulos e caldas com sabores agradáveis, facilitando a administração e a adesão ao tratamento”, destaca Farah.
O acompanhamento veterinário é indispensável para avaliar a necessidade de terapias naturais e para equilibrar as estratégias comportamentais e ambientais adotadas. “Cada pet é único. Por isso, a individualização da terapia faz toda a diferença. Com o acompanhamento do médico-veterinário, é possível encontrar a combinação ideal de estímulos ambientais, rotina estruturada e apoio terapêutico para que cães e gatos tenham qualidade de vida mesmo em espaços compactos”, finaliza a veterinária.
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